Havia chegado na cidade
de trinta mil habitantes, nada assustador, tirando a temperatura por volta de
menos cinco, isso não foi o suficiente para aumentar meu tormento, pelo
contrário, foi alimentado, nem para mais e nem para menos. Exageros a parte,
não era menos cinco, no máximo a sensação do polo norte. No Brasil, o clima
muda consideravelmente. Em cidades onde o clima é seco e completamente deserto,
a noite, há um frio de serra. O tour seria conhecer o que não conhecia e, a
diversão era olhar para as luzes que brilhavam por toda a rua principal.
Não fui muito fiel aos
trajes de elegância do inverno, uma segunda pele com outras, poderiam compor a
proteção de meu corpo, mas vou confessar que o meu favorito, é um casaco cor
vinho que cobre minhas pernas. É uma delícia! Nele me sentia envolvida no
conforto de meus cobertores de cama. Não poderia tirar o fato de que, em
qualquer lugar da rua, havia casais tirando foto ou completamente apaixonados
degustando um bom chocolate quente. Bem esperta, parava por um instante para ver
este momento e, ria como se ninguém estivesse olhando para mim e, não estavam. Minhas amigas me elogiavam, mas não estava
disposta a me mexer ou me gabar, no momento, queria aproveitar a sensação de
alegria. Os lugares eram completamente alemãs, parecia que tinha saído do
Brasil, na verdade quem compôs todo o roteiro de viagem foi a Ângela. Aceitei,
não foi difícil dizer não. Estava disposta a viver este momento sozinha, elas
andavam entrelaçadas com as mãos, e não estranhavam o fato de eu ficar para
trás. Queria olhar pelo vidro, coisas que me chamavam atenção e, era tudo muito
gelado, porque na verdade tudo chamava atenção. Quando percebi no vidro, minhas
unhas estavam da cor do meu casaco, por um momento fiquei feliz por estar
dentro dos quesitos da moda inverno. Os bolsos da frente me salvaram quando o
vento frio passava e a touca, protegia minha cabeça de uma dor bem absurda.
Estou andando bem equipada – pensei -
até que percebi a falta de meu protetor labial, ele não estava comigo e,
lógico deveria estar com alguma das meninas. Atravessei a rua com a cabeça
baixa para olhar - já que a possibilidade de carro era mínima - as outras vitrines
presentes, me deparei com um som curioso e completamente conhecível pelos primórdios
da minha vida. Seria The Beatles - All my Loving? Tentei procurar de onde vinha
o som, já que estava baixo, quando me virei para ver, era o toque de um
telefone celular, balancei meu corpo como se minha alma estivesse limpa e
sorrindo outra vez.
Continuei andando,
quando uma menina pulava, levantando as mãos, acenando e era para mim. Era
Briana mostrando a localização do restaurante que estávamos atrás e de fato queríamos
comer. Aquela música compôs toda a noite para mim e, não conseguia tira-la de
minha cabeça. A noite ficou perfeita e foi presenteada com muitos, vários
e verdadeiros sorrisos. Foi feito um brinde aos Besouros por terem salvado a
minha noite. Pedimos a culinária típica alemã e ao sairmos de saímos de lá, não resisti
a andar pelas ruas de braços dados com minhas amigas. Conseguíamos nos aquecer
até chegar ao hotel.
Chegadas devidamente no
Hotel, nos servimos da noite, de uma composição de roupas para dormir e muita
fofoca. O assunto era homens e, sinceramente não estava afim de perder a noite
falando dos alemães que olharam para nós. As meninas perceberam e não fiz muita
questão. Deitei na cama de bruços e apoiei minhas mãos sobre a cabeça. Era cada
história que decidi pedi um chocolate quente, com o detalhe que todos já
estavam dormindo e o horário do funcionamento não era 24 horas.
Tirando o fato de que
ao sair do quarto para espiar o que havia no hotel por brincadeira, correndo,
dei de cara com um homem bem vestido e trajado e eu com meias brancas e uma
blusa extremamente enorme, tudo parecia bem, até que algo meio que aconteceu. As meninas que estavam olhando pela porta semiaberta,
fecharam desesperadas e me deixaram em apuros. Aquela noite percebi que cometi
uma tremenda gafe.
Cheguei ao quarto horrorizada,
poderia ser bem pior já que todas estavam rindo de mim, ou olhando para as
unhas, mas ele riu tanto que queria me conhecer em roupas mais adequadas. Havia
conseguido um guia e esse foi o momento que todas me agradeceram.
Noutro dia, o frio era suportável
e dava até para arriscar um vestido preto mais outono e um casaco xadrez. Não o
vi por todo Hotel, na verdade, era como se ele tivesse evaporado, apesar da
ligação e da mensagem no celular.