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Imagem Ilustrativa
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Cássio estava cansado
de andar pelas ruas e provar sua masculinidade. Havia dito aos amigos que
pararia de fumar e beber no início de todo anoitecer.
- Ah, meu amigo Cássio!
Sabes que é incapaz de manter-se com apenas uma donzela. Teu coração é do
mundo.
Todos riram, inclusive
o protagonista que bebia com um olhar melancólico e distante.
- Veja bem companheiro, vou lhe contar uma
história. A professora de literatura, aquela meio suja, obrigou eu e a todos
lerem a descrição absurda de um beijo em um livro que continha poesia. Levantou
indignado da cadeira. – Como pode, meus queridos irmãos, eu descrever um beijo?
Cássio retornando ao
presente, disse:
- É fácil descrever um
beijo irmão.
Todos riram.
- Estás sóbrio meu amigo? Beba mais, beba. O
beijo é beijo. Toque de lábios é toque de lábios. Não existe técnica para
beijar. Técnica só no carma do curso de advocacia e logo depois de medicina,
que vamos, nós três, estudar. Todas essas infelizes e belas donzelas se
apaixonam até com beijos de vagabundos de boca gelada.
- Trata todas as
mulheres como se fossem coisa Otávio. Disse Cássio, virando um copo de whisky,
encostado na cadeira.
- Estás maluco? Por
cada prostíbulo que passou, pensavas eu que tinhas aprendido algo. Levantou
outra vez da cadeira. – A loucura da bebida. Perdemos um guerreiro! Perdemos um
guerreiro!
- Pare Otávio, olhe as
belas moças. Estamos chamando atenção. Disse Cássio, puxando o terno de Otávio.
- Não se vá, pigmeu. Ajoelhou-se. – Oh! Pigmeu.
- Estamos só eu, Otávio
e tu, Cássio. No meio desta zona existencial, sou o único que tenho controle
sobre a bebida. Não estou bêbado... estou anestesiado.
- Pois bem meus amigos,
caros colegas de aula e futuros doutores deste Brasil. Heitor e Otávio... Uma
princesa roubou meu coração.
Todos ficaram sem
palavras, pensando na paspalhada que a bebida fez com o companheiro.
Continuaram decidindo escutar o amigo.
- Mesmo não sendo
conhecedor de bons tecidos, a pele dela era suave, seus lábios eram aveludados,
meus amigos, ao passar a mão em meu rosto, senti a brisa do final de inverno
passando pelas camadas de minha pele, aquecendo todas as minhas veias.
Todos riram
compulsivamente. Parecia ser não somente, como era a melhor noite antes de
partirem para Fortaleza.
- Cássio, és um grande
comediante. Seduziria donzelas nos leitos. Agora nos conte a verdade sobre
aquela lá... aquela esquecida, sem nome.
O protagonista balançou
a cabeça em gesto de negação.
- Pois não é amigos.
Estou apaixonado, completamente apaixonado. Meu coração pula do peito. Dispara
totalmente.
- Rapaz, pois nos diga,
queremos conhecer quem anda com ela. Queremos deste toque aveludado, conhecer
outros tecidos. Todos riram, batendo os copos sobre a mesa.
Enquanto isso, a chefia
do estabelecimento só observava a diversão dos meninos. Pensava em acabar com a
festa, o mesmo estava se divertindo para ser o limitador de felicidade. Mesmo
recebendo toques de outras mesas sobre incômodo e barulho, conhecia os pais dos
infelizes e não queria confusão.
- Estão empolgados ao
extremo. Disse Cássio rindo satisfatoriamente.
- Perdemos um
guerreiro! – gritou Otávio.
- Vou contar quem é
ela. Se chama...Quem é ela não! O nome... Se chama Aurora.
- Uh! Nome de princesa.
Deve estar apaixonado mesmo. Disse Heitor, bebendo em cautelo.
-
Existe outra, além dela....
Por algum equívoco do
destino, a doce Aurora teve que fazer um desvio em seu caminho. Tinha ocorrido
uma tragédia na casa de número terminado em cinco. Não pôde ver, mesmo tentando
avistar por cima dos ombros, no meio de tanta gente curiosa. Seria uma novidade
para falar ao chegar em casa depois da aula de pintura. Teria que passar pela
rua dos vagabundos, às 12:00 horas, já que os policiais interditaram a rua.
Estava assustada. Calculou: ocorreu uma tragédia, seu pai estava com o carro
parado depois da rua perigosa e uma simbólica borboleta à acompanhava. O que
poderia acontecer? Então parou e ouviu uma voz familiar....
- Vou contar quem é
ela. Se chama...Quem é ela não! O nome... Se chama... Aurora... Existe outra
além dela.
- Quem pigmeu?
- A noite meu jovem, a
noite! Todos respiraram aliviados.
- Prometi mundos e
fundos para aquela infeliz. Inclusive, marcarei algum encontro romântico para
entender mais sobre os tecidos de seu corpo.
Os três amigos brindaram.
Ao levantar-se para tirar a paciência da chefia, avistou de longe, Aurora.
Estava parada no outro lado da rua, ao lado do que pareciam ser duas
borboletas. Assustou-se, porém logo se recompôs, pegou o copo de bebida
completa, virou e apontou o dedo ao destino da donzela.
- A infeliz donzela
Cássio? Não era mentira? É da noite? Diminuíram os risos. – Aurora! Aurora! Nos
apresente suas amigas. Moça! Doce Aurora, não vá, venha cá.
A protagonista correu
tristemente ao encontro de seu pai. Já pensara na justificativa do choro para
dizer o motivo das lágrimas.
Cássio sentiu a bebida
evaporar por todo seu corpo, antes mesmo de acovardasse. Viu a menina e logo
perdera. Seu plano fugira de seu controle. Havia perdido Aurora. Sabia que
voltaria e a levaria para capital. Estava apaixonado e nunca tinha sido
brincadeira. A chefia chegou perto e tocou-lhe o ombro como sinal de pêsames.
Cássio havia perdido Aurora por conta de uma noite... Para sempre.