Muito menos uma
história triste e de amarguras.
Pelo contrario: sem casamentos, sem festas e sem o óbvio da sociedade.
O óbvio da sociedade é mascarar a realidade com datas indelicadas e bebida para disfarçar o senso de dor mental. Eu hein... 😊
Já me torturei demais
por ser diferente das outras meninas, minha preferência por casamento é
nenhuma. Quero viver para ser feliz e não acorrentada com um sorriso falso,
diante de todo mundo.
Tenho amigas que já são
casadas, os motivos são bem fora do contexto óbvio e racionalidade, algumas
casaram para sair da casa dos pais, outras porque era o sonho e as demais para
segurar o amor. É, eu tenho muitos amigos... mas quem é inteligente e tem o
mínimo de senso, perceberá que não direi quantas são, ficaria bem óbvio.
Minha história não é
nada demais, você vai achar estranho e me julgar.
Quando criança meus
pais tinham sensibilidade a coisas do mundo como água da chuva caindo do céu,
água na grama, castelo de areia na praia e jogos de pique esconde no bairro. Eu
era completamente isolada de tudo e de todos, menos dos livros. Enquanto
algumas crianças se esquecem do trauma, me lembro de cada detalhe.
Quando chovia todas as
crianças na cidade estavam pulando em poças de lama ou se sujando na grama
verde, dançando na chuva com roupa branca e brincando de pique esconde.
Meus olhares eram
discretos para fora de casa, os vizinhos ainda me chamavam, mas minha mãe
falava por mim ou a empregada que me cuidava. Nunca tive a possibilidade de ser
uma criança normal. Os livros da minha mãe eram distribuídos entre vários,
desde índios até livros amarelados sem capa, coisa que ela fazia questão de não
se desfazer. Entre a janela da sala e a visão para a rua era um olho. O meu
olho direito. Eu via o mundo, e parecia o mundo lá fora, dentro era cor de
madeira com verniz e livro antigo, fora, muitos sorrisos. As cores não mudavam
muito. Minhas roupas eram confeccionadas e poucas vezes compradas em loja.
Cresci sem honras de quinze anos ou amigos me cercando. Não era solitária,
sorria, andava, não ia sozinha e não voltava sozinha da escola. Tinha sempre a
mesma companhia.
Isso me fez compactuar
com algumas ideias literárias, filosóficas sobre a existência e o pertencer ao
outro de forma doentia. Isso me assustou quando tinha dez anos.
Hoje, não penso em
casamento, muito menos em uma festa muito animada, mas a infância que tivera me
proporcionou um espírito tão livre que sair pelo mundo não seria péssima ideia.
Entre uma infância solitária e uma ‘adultez’ livre, muitos anos me restam ainda.
A ideia de casamento é ilusória.
Poxa, é só uma história...