Histórias contadas em primeira
pessoa que não tem um destino certo, muito menos personagens que existem. Vai
partir da minha e da sua astúcia em acreditar na mentira e expor totalmente a
verdade. Aconteceu ou não aconteceu?
Na
minha concepção amizade acolhe todo tipo dor, amizade é abraço, é presença na
ausência. O que fez eu enxergar tudo diferente foi um plano que fizeram para
mim, em cima de minhas dores. Pode parecer que eu sou a moça coitada, juro que
nunca foi a intenção.
Tudo
começou quando tinha discutido com meus pais por não me deixarem sair. Já tinha
feito todas as minhas obrigações como adolescente, inclusive obedecido todos os
pedidos dos meus pais. Ficou certo que se eu cumprisse, teria qualquer pedido
aceito.
– Julia, se você fizer todas as atividades,
você pode pedir o que quiser.
-
Sério? Tá bem. Óbvio que eu fiquei mega
feliz.
Eu
estava muito animada. Recebi uma ligação no telefone principal da casa dos meus
pais. Era minha amiga, me chamando para uma festa na casa do Antônio. Fiquei
muito feliz, já sabia que tinha feito todas as atividades que meus pais
solicitaram, logo, um não era impossível de ouvir.
-
Não!
-
Como assim mãe?
-
Não. Não é não Júlia. Que horas termina essa festa?
-
Cadê meu pai? – Disse eu com lágrimas nos olhos. – Cadê o meu pai?
-
Seu pai foi na casa do seus avós. Julia ele trará notícias.
-
A senhora não pode fazer isso comigo, por favor. Eu fiz tudo que vocês me
pediram.
-
Filha, pelo amor de Deus! Recebemos uma ligação de urgência da sua tia, não
sabemos o que é, e temos que respeitar até essa notícia chegar. Você sabe que
seu avô está em processo de recuperação da cirurgia do coração.
-
O que eu tenho com isso, mãe?
-
Julia, desconheço você. Cadê a menina doce e gentil que eu eduquei?
-
Está perdida e cansada mãe, está bem? E a culpa são de vocês dois.
É,
realmente a situação não estava fácil para mim. Senti quando minha mãe falou do
meu avô, logo as emoções se misturaram. Eu não sei entender que pode ter outra
festa, na minha cabeça essa vai ser a melhor festa e meus pais mentiram para mim
de uma maneira imperdoável, para uma menina doce como eu.
Quando
a Isabeli me ligou, disse que vinha me buscar em casa de carro com o irmão
dela. Não falei com minha mãe final de tarde e início da noite, passei por cima
da autoridade dela, e me vesti para à festa. Meu coração estava em cacos,
lógico. Estava querendo falar com alguém e expor tudo o que eu estava sentindo.
A raiva era descomunal, mas eu não entendia o porquê estar acontecendo
justamente comigo. A Isabeli era a mais bem cotada para me entender, estava
esperando-a na escada que dá direto para o portão de entrada da minha casa. Vi
pelo telefone ela chegar, mas logo ouvi o carro do meu pai também. Só sei que
entrei. Entrei no carro e não falei com ele. Lá estavam os dois. Isabeli queria
comer já que saiu de casa sem ter colocado nada no estômago, eu nem me lembrava
o que havia comido. Então paramos onde ela costuma comer quando vai a festas.
Ela pediu um refrigerante, eu pedi água de coco para hidratar.
-
Essa festa vai ser demais.
-
Que horas eu tenho que buscar as damas na festa? –Perguntou Henrique.
-
A Júlia te liga. Não é Júlia? Ela é a mais propensa a não beber nada que turve
a visão.
-
Júlia?
-
Sim, eu ligo para você Henrique.
-
Posso falar com você antes de chegarmos lá? Isabeli não estou aguentando.
Trouxe até maquiagem. – Falei baixo.
- Está bem.
Henrique
parou na esquina da festa... Ou melhor, na esquina da casa do Antônio, eram
tantos carros que ficava impossível de não identificar que era lá.
-
O que foi Júlia?
-
Sua vida é tão perfeita, você é feliz todo dia, sabe se comunicar com os
professores... Isa, não sei mais o que fazer. –Disse quase entrando em prantos.
-
Como? Eu não entendi Júlia. – Disse meio irritada. – Minha vida é perfeita?
Como sabe? Sério que você parou aqui para querer chorar na esquina da casa do Antônio?
Eu não acredito. Eu realmente não acredito.
Fiquei
sem entender. Achei que os carros fariam a cobertura de nossos rostos, mas a
Isabeli viu outras amigas dela e logo levantou o braço. Elas chegaram em direção
a nós e me viram em estado pouco diferente do que pede uma festa.
-
Você ainda anda com ela? – Perguntou Larissa
-
Mas você disse para mim que não gostava dela. – Afirmou Giovana
-
É Lari e Gio, não gosto dela, tentei, mas não dá. É uma invejosa, falsa. Disse que
minha vida é perfeita. Como amiga ela é uma ótima inimiga. Ainda bem que tenho
vocês.
-
Que? O que você está dizendo Isabeli. Está louca? Eu não tenho inveja de você,
me escuta.
-
Louca eu estava quando te convidei. Não vou escutar. Fique você com seus
problemas.
-
Acho melhor entrarmos. Disse Larissa. – Também acho. O clima aqui não está
legal. – Concordaram.
-
Não me chama amanhã na escola Júlia, eu não existo para você.
Estou
desolada. Não tenho pais, agora não tenho amigas e a Isabeli vai espalhar para
todos que eu tenho inveja da vida dela. Sentei no chão da rua e lá fiquei
chorando. Recebo uma ligação da minha mãe e sem pensar, atendo em lágrimas.
-
Mãe, por favor, me busca aqui. Me desculpa.
Depois
desse episódio, pedi desculpas aos meus pais. Minha mãe disse que meu avô
estava bem, queriam fazer uma festa surpresa de recuperação e meu pai precisava
ir, não deu tempo contar e minha mãe entrou em desespero. Contei tudo para
minha mãe dentro do carro na volta para casa e, ela logo pensou em uma psicóloga.
Ela sabia que o final da adolescência estava mexendo comigo e com ela, e não
sabia como ajudar, mas sabia quem podia me ajudar. Como mãe, talvez tenha sido
um dos maiores atos de amor e coragem. Com relação a Isabeli, nos falamos, mas
não somos tão mais amigas.