O
Senhor da Padaria disse-me para te mandar uma carta. Convém que na melhor das
hipóteses, não chegaria a casa do lago ou danificaria o relógio central dos
apaixonados. Parece-me pois que estou apaixonada por ti, que estar longe de
teus braços está sendo um tormento em minha vida. Penses claro no que faz, o
que sou de nada interessa. A pouco, mamãe levou-me ao médico. Espero os
resultados. Sabes tu que sofro de uma doença que te faz rir em mesas de bar, e
corredores escuros pela Avenida dos Amantes...
Te
falar da minha Hipocondria, doença que me faz parecer uma doente de clinica
psiquiatra. Longe de minha pessoa renegar aquelas pobres pessoas que vivem em
territórios tão distantes de nossa vida normal. Andei por lá. Papai levou-me.
És pois assustador um pouco ver pessoas que falam mentiras como se fossem
verdade, e vos olham escuro. É tão sombrio a alma daquelas pessoas que me
assusta o fato de não saber identificar o por trás da escuridão. Logo tu sabes
bem que além do sorriso que me encanta, o olhar me seduz. E algumas pessoas
riram de forma esquisita. Elas na verdade não riam... O sorriso cativante é identificável
certo? Estou para decidir se voltarei.
Conte-me
como andas por ai. Frio? Quente? Fala-me! Conte-me se estás empolgado com a
nova vida! Passam os segundos e o sonhos das pessoas estão indo para ralo e, tu
não me contas o entusiasmo. Conhecestes uma rapariga ou um moço boêmio?
Se
de fato os exames atestarem que estou gravemente doente, vens me ver, certo?
Se
os exames forem negativos... Por ai vais ficar?
Estou
entediada em casa. Preciso de um Romeo para subir em minha sacada. Olhando bem
agora... Imagine: eu olhando a sacada enquanto escrevo para você. Só não olho a
lua e direciono meu dedo, pois mamãe disse que dá verrugas. Digas que estás a
olhar a lua também, assim não me sinto tão... boba. Há tanta coisa para
conversar, infelizmente parece que mais sinto. Não quero descrever meus
sentimentos, quero senti-los. Penso que escrever a sentimentalidade é perder a
sensação. Deveria ser fácil para nós mulheres e, pouco vergonhoso dizer “Assim
te quero agora, meu amor, depois das onze, vai-te embora”. Assim te quero meu
amor, por um instante, depois vai-te embora e volta. Não chocante nossa história
acabar sem ao menos ter iniciado. Fica a ti minha carta, confessando meu desejo
e não o meu amor. Que o Padre não saiba e que mamãe não ouse pensar... Deixe
dizer que sentindo meu corpo, talvez esteja prenha. Meus seios estão estranhos
e choro por pouca coisa. Além da nostalgia de teus braços e essa estranha carta
de amor, passaram algumas horas e achei de grande valia minhas palavras para
joga-las fora. Renego o meu amor e salvo o meu presente. Se mamãe visse a
carta, jogaria fora como eu ou guardaria como forma de tormento para o resto de
minha vida. Assim bem sei que tu és da boêmia, não recusa uma cantada de
mulheres ousadas. Apresento-me a ti uma garota imoral em carta, aquela que tu
achavas inocente e foi-te embora sem saber alguns segredos. Última carta que
recebi de ti, alguém deu fim. Não penses que guardei. Não peço para voltar
logo, abruptamente pois até lá estarei em outros braços. Tarde demais para te
amar, meu amor.