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Imagem Ilustrativa
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A
gente se sente tão péssima quando alguém nos abandona. Normalmente pensamos que
o erro é completamente nosso, e realmente, a primeira coisa que uma pessoa faz,
quando vai embora, e sai de nossas vidas é espalhar para todo mundo, quem é o
vilão e quem é o mocinho. Mas o egoísmo do outro é tão elevado que o impede de
pensar em tudo o que viveram para manter pelo menos, o respeito e a dignidade. Muitas
vezes, o objetivo de alguém magoado, é dizer para todo mundo que o outro é o
vilão; com exceções, claro.
Parecia frágil em seus braços e
posso confessar que não existia lugar melhor para viver. Num mundo onde os
clichês são impossíveis, nós dois éramos o contratempo, discos de vinil querendo
um encaixe em códigos de computador.
E
você foi embora deixando uma marca vazia e sem qualquer responsabilidade. Suja,
invejosa, difícil de ver, insuportável, imemorável, uma alma que eu queria
distância para sempre, coisas que raramente seriam adjetivos vinculados a você.
Mesmo assim, preferiu ir embora da pior forma possível. Intitulado carta,
quando na verdade deveria ser boas verdades ditas, neste documento não irei
poupar minhas palavras, te poupei por anos, hoje não mais. Posso perder todo
mundo, ficar sozinha, mas te poupar, nunca mais. Escutava todos falando que
havia comentado mal de mim, e cinicamente você me tratava como uma cobertura em
um bolo estragado. Talvez eu fosse boba demais para acreditar que isso viria de
você. Não mesmo. Te digo: - Agradeço, agradeço por ter aberto os meus olhos
para as pessoas ruins, essas que podem ser do nosso próprio sangue.
A
História é longa, e não irei contar nem resumir, porém quero deixar de recado
para as próximas pessoas que irão entrar em minha vida, mesmo que eu não as
conheça, que podem estar cometendo os mesmos erros dos outros.
Vi
pessoas indo embora, escorregando de minhas mãos. Não é uma visão agradável quando
todos se afastam de você. Quando os abandonos começaram, era muito nova. A
sensação primeira, é de que eu estava errada, já na sensação segunda, a mente
não aguentou e pediu abrigo. As outras etapas, eu parei de contar, são tantas
que me perdi, tantas que desisti. Ver as pessoas indo embora me culpabilizando,
dizendo que o maior erro era eu existir ou eu ser eu mesma, me fez ser uma
pessoa conformada com minha solidão. Eu não podia fugir dela, justamente pela
mágoa que me deixaram. Entenda que não sou uma pessoa magoada, e sim os que
foram embora me deixaram vossas mágoas, encapsuladas de um desgosto abrupto por
mim. Eu só fui um saco de pancadas. Por muito tempo, vivi escondida nas minhas
próprias dores, acreditando que a errada do mundo era somente eu, e que todos
eram felizes. Demorei para entender que existiam pessoas que nasceram para
serem amadas, para amar, e outras nasceram para ficarem sozinhas. Em nenhuma hipótese
me via na solidão, mas parecia que a vida me puxava para este lugar, como se
fosse um ímã forte. Não importava o que fizesse, nada era suficiente. Seguia as
recomendações dos comportamentalistas, e era muito difícil explicar por que não
funcionava. Simplesmente não funcionava, meu esforço era em vão. De alguma
maneira eu sentia que chamava atenção para um lado ofuscativo e isso
desagradava. Como se eu fosse uma visão de espelho delas próprias andando pelas
ruas, das pessoas.
Se
pudesse dizer o que sou capaz de ver diante dos erros que me foram colocados,
as coisas poderiam ser mais claras. O problema é que o ser humano tem a
capacidade de preferir construir insanidades, psicoses nas mentes, paranoias
sobre o que aperta a dúvida sobre alguém, que perguntar para pessoa duvidada, “o que está acontecendo?”
Quando
for embora, não quero ninguém chorando por mim. E seria uma bela frase na
lápide. “Não chorastes por mim em vida,
não chores por mim na morte”. As lágrimas não fazem mais sentido, as
lágrimas só fazem sentido para aquele que condenou, julgou e não pediu
desculpas para si mesmo. Preferiu o lugar mais sujo do orgulho. Também não
posso generalizar as lágrimas: há amados, amadores e solidões.
Uma
família quando se constrói na dor, que não cura as feridas passadas e sonega a
capacidade de um membro, é capaz de derruba-lo sem culpa.
Ver
pessoas indo embora, por muito tempo me fez achar que eu era o problema. E para
o problema ficar maior, elas saiam e ainda deixavam rastros sujos de mim em
outras pessoas que nem ao menos me conheciam. Assim, se formava um circo, onde
o palhaço sem graça, era eu.
As
pessoas sabem da capacidade que tem, sabem até aonde podem ir para destruir uma
pessoa em sua totalidade e essência, porém algumas tratam as insanidades e não deixam
ser conduzidas pelo maquinista bêbado, que às vezes é nosso cérebro.
Infelizmente
as pessoas que me abandonaram eram guiadas por esse maquinista. Por muito
tempo, deixei-o guiar pensando estar totalmente incapaz de guiar minha vida.
Mas
as pessoas sabem exatamente onde te magoar, elas sabem o que podem fazer para
destruir a base moral humana, a divisão é que algumas fazem e outras não. Mas por
conta da mágoa, o maquinista bêbado está com emprego para o resto da vida.