Só irei me acalmar quando personificar você em versos. A imaginação pode te transformar em partículas e chegar até memórias que não consigo encarar. Faço da escrita, uma forma de denunciar essa dor pautada no inconsciente que se manifesta em situações inesperadas. Um contexto tão crucial para eu destruir sua vida, mas não no sentido objetivo da situação e sim da minha cabeça. Meu ego se manifesta, treme, à beira de quebrar uma barreira, essa que o ID insiste em destruir. Percebe a luta do amor inconsciente?
O amor não é um sentimento sem inconsciência, é um sentimento que causa danos e deixa marcas para o resto da vida. Sinto-me desapegada até entender que a vida real, não aceita devoluções, e muito menos de amores antigos, magoados e sofridos. Resquícios de sofrimento não são suficientes para a vida encarar amores como uma forma de recomeço que gerará frutos. Imagino então nosso antigo amor num brechó de sentimentos. Quem comprará? Uma pessoa que tem medo de amar ou quem quer amar do nosso jeito? Imagino nós, em um vidro, na casa de alguém, sendo expostos a todos que chegam. Essa pode ser uma bela viagem no tempo. Você compraria nossa história?
Esses resquícios de sofrimento e lembranças inconclusivas sem qualquer abertura para segundas chances, merecem estar numa feira de brechós. Seriamos a atração mais triste e a mais feliz do local. Não é à toa. Passei lá e nos vi. Discretamente me afastei quando percebi que poderíamos ser vendidos. Não queria estragar a venda, por algum motivo poderiam supor que queria. Suposição essa pautada no achismo de que poderiam me reconhecer. Mas quando nem eu mesma me reconheço, por que alguém que nunca me viu, reconheceria? É tudo tão nublado... Tudo se resume a brigas, abraços, choros, eu sozinha por um mês. Sim... Um mês.
- Posso... Por um instante, posso ver isto?
- Claro, eu já comprei hein.
- Sim, me lembra alguém. Disse. – Espero que não se incomode.
- Claro que não. - Alguém? Quem? É apenas ilusão menina... Esses brechós vendem de tudo.
- Ah, claro. Por um momento me vi aqui.
- Não é à toa que estou à comprar. Minha querida, me vejo aqui dentro também. Parece um coração exposto. Disse rindo.
-Sim, obrigada e desculpa.
- Por nada querida.
Um mês de sofrimento e espera. Esperaria tanto assim? Não consigo ao menos enxerga-me... Há muita neblina, uma cama, eu e a solidão. Um minuto e você surge, rápido, mas o que ninguém sabe é que você sumia por meses, e eu, esperava.
