quarta-feira, 2 de setembro de 2020

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

O Primeiro Beijo – Clarice Lispector

Me encanta  “O Anjo das Donzelas” de Machado e agora sei qual meu tipo de leitura preferida. Rápido vezes sim vezes não. É ler um livro em poucas laudas e consumir uma história com um final imprevisível. Nessa quarentena me descobri apaixonada por contos. Mais que livros... sim.  Uma descoberta de grande alivio já que não adianta tentar mudar minha opinião, contos são frescos, vivos, verdes, livres. Não por serem rápidos, mas por serem cativantes. Amanhã não sei se mudarei de ideia, deixo aqui minha dica. Leia contos.
Ah...
Me conta: tu acha que ele bebeu água achando estar beijando de fato uma estátua ou Clarice está brincando com nós?

Obrigada por ler
Beijinhos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DOCE

 Tu mentes como também oculta pensamentos. Estes deveriam ser meus, e compartilhados a mim que por ti estou, mas não há nada que possa fazer...

Total de visualizações de página