De olhos fechados entreabriu os
lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro
gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e
com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir
os olhos.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.
O
Primeiro Beijo – Clarice Lispector
Me
encanta “O Anjo das Donzelas” de Machado e agora sei qual meu tipo de leitura
preferida. Rápido vezes sim vezes não. É ler um livro em poucas laudas e consumir
uma história com um final imprevisível. Nessa quarentena me descobri apaixonada
por contos. Mais que livros... sim. Uma descoberta
de grande alivio já que não adianta tentar mudar minha opinião, contos são
frescos, vivos, verdes, livres. Não por serem rápidos, mas por serem cativantes.
Amanhã não sei se mudarei de ideia, deixo aqui minha dica. Leia contos.
Ah...
Me
conta: tu acha que ele bebeu água achando estar beijando de fato uma estátua ou
Clarice está brincando com nós?
Obrigada
por ler
Beijinhos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário