O
mundo está um caos lá fora e daqui a pouco tenho que sair. Como posso dizer que
estou feliz com toda essa tragédia acontecendo? Não sei se minhas preocupações
aumentaram ou o caos está fazendo eu enxergar o sofrimento de outra forma. Em qual
parte eu tenho culpa? Como posso ajudar? A consequência da empatia é a justiça.
Por isso é tão difícil ser justo. Abdicar da nossa alegria em prol do sofrimento
alheio é uma prova de amor para quem não amamos, para quem nunca vimos, para
quem não conhecemos. O mundo está um caos, faço parte dele, mas não tenho
poderes suficiente que me protejam de uma enorme e cicatrizante ferida em minha
identidade. Pode ser eu um dia, eu sei, mas eu somente sei, nunca passei.
Imagino passar, mas não consigo imaginar sentir a dor. Como faço para ser mais
justa e menos egoísta? O mundo onde vivo e da qual pertenço está acabando aos
poucos e eu não posso fazer nada para salva-lo.... Nada o suficiente que repare
anos de lutas, e lágrimas de pessoas inocentes. Eu não sei ser justa, mas sei
olhar para o meu sofrimento e questionar sobre o porquê ele existe em mim. Já
não há tristeza demais lá fora? É preciso eu ver com os meus próprios olhos o
que é, para fazer sentido eu não ficar triste por qualquer coisa? Dentro de mim, um enorme iceberg se desfaz, uma
geleira enorme se constrói. Não para de crescer... É grande. Guarda os meus
sofrimentos e a educação de ser empática, aprender a ser empática como aprendi
a escrever meu próprio nome. Ela não pensa em desaparecer.
Amanhã,
depois de amanhã, irei sair e terei que encarar dois monstros: a minha geleira
e vários tornados no centro da cidade e em todo o mundo.
Os
menos afetados dizem que é obra de Deus, são abençoados por conta da riqueza
que têm. Não consigo entender essa justiça divina que os ricos interpretam.
Numa sociedade tão desigual em todos os aspectos, a bênção é sinônimo de
dinheiro? Os menos afortunados não tem a bênção divina então?
Essa
interpretação, talvez seja mais uma mesquinharia da classe mais alta da
sociedade. Partilha um pão e fica com a ceia completa, papel o suficiente para
fazer outra. Num mundo desigual, o dinheiro reina, decide e julga quem é
merecedor de estar vivo ou... Com asas. O mundo está um caos lá fora, e os mais
ricos querem dar um diamante em troca de um leito, com o respaldo de serem os
escolhidos por Deus para estarem vivos, enquanto outros, nada fizeram para
serem pobres.
Amanhã
eu terei que sair, estou triste, mas não só isso, preciso nunca esquecer do que
estou vendo, vivendo e observando não só eu como as pessoas passarem...
Os
meus sonhos estão lá fora, dentro de um tornado qualquer... E o que eu fiz para perde-los se nunca os tive? Nem ao menos pude lutar para conquista-los. Sou
divinamente incapaz de ser abençoada? Incapaz de conquistar meus sonhos?
O
mundo é seleto, mas eu faço parte dele, logo, eu quero estar na lista de
seleção de forma justa.
De
fato, o mundo está um caos.
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