Está
aqui mesmo ou estou acreditando que está na mesma portaria de meus sonhos? É incrível
não ter te encontrado na rua da Dona Célia, aquela que vendia geladinho de
vários sabores para as crianças e vizinhos da rua. Bom lucro. Cada um se virava
como podia. E não te vi, nunca te vi por ali. Me lembro exatamente de uma
garota que usava roupa, era loira e se dizia Barbie. Na verdade os garotos
encantados por ela, a chamavam assim e isso era um grande elogio. Seu olhar era
esnobe e com ele penetrou o que a Barbie nunca mostrou: seu veneno. Acho que
ela é uma referência de perfeição mentirosa. É apenas um brinquedo, algo que
não tem como pensar em ser, pelo menos penso assim.
Pois
bem, concluindo, essa menina se intitulava a madura. Dizia ela saber de tudo
sobre a vida adulta e os problemas que enfrentava. Sentava comigo, e se gabava
realmente do que ouvia de seus pais. Mas eu era
aquela garota que gostava de laços de cetim no cabelo e pernas cruzadas. Por incrível
que pareça, tinha os melhores amigos meninos. Era incrível. Nunca fui de me
apresentar na roda de amigos, sempre fui aquela do laço de cetim rosa bebê que
sorria nas conversas de amigos em comum e, não deixava cair os livros. Era
aquela garota que não sabia o que fazer quando a roda se desfazia enquanto o
portão da escola não abria e, o que me restava era colocar um livro na calçada
e sentar, esperando dar o horário para entrar e começar o turno. Lembro que me
enturmava pouco, pouco sociável, mas que atraia o seu olhar. Por volta dos meus
6 anos de idade, Papai iniciou esse processo de enlaçar o meu cabelo. Era de um
rapidez absurda, já que mamãe, fazia outras atividades. Uma delas era cuidar de
quem ficava doente. Se tornou rotina, Papai me pegar na escola, aprimorei o
laço no cabelo e o deixei fazer parte de mim. Em uma passeio de família, foi
comprado e oferecido fitas do senhor do Bonfim. Com três nós bem dados, você
fecha os olhos e faz pedido. O correto é ficar com ela até ela se destruir
por inteira, no fim, seus desejos foram realizados por ele. Me lembro bem de
ter levado a fita, mas não a usei. O sol era forte e outras prioridades ficavam
em primeira quando o quesito era calor. Tirávamos fotos típicas de família e
depois reservávamos.
Pouco
sociável, eu sei, até você não querer olhar para mim. Era estranho atravessar
teu olhar quando poucos anos atrás éramos crianças e não pensávamos um no
outro. Para fechar o ano escolar, era necessário apresentar projetos bem
simples para ganhar nota e claro, se divertir para unir as famílias. Uma menina
me puxou, e me entregou um bilhete dizendo que era para encontrar debaixo da
árvore com luzes de natal. A referência era a menina com laço de cetim na
cabeça.
Você
sente falta disso, e doeu me ver tirar o item que te atraiu. Te atraiu mais que
o meu corpo.Depois até te estranhei. Não era como antes. Usava a fita de cetim
e Papai adorava. Foi obra dele.
Então
crescemos, ela teria que sair de uma forma ou de outra. Colocava em momentos
especiais quando estávamos juntos, em momento de descontração, areia no pé, maresia...
Não
crescemos juntos pelos términos. Choros, pedido de desculpas e a sua traição
comigo. Te ver beijar outra garota me deixou um belo tempo usando laço de cetim preto.
O que é passado e eu perdoei. Não sei como...
Hoje
não sei se te amo por comodidade ou se o eu te amo é uma bela desculpa, para disfarçar
o terrível medo que tenho de me descobrir sozinha sem você.
A
garota do cetim cresceu, o casal exemplo também, ambos para seus lados, porém
nunca distantes um do outro.
Lembro que um dia
você tocou em meu ombro e, a partir daí, tudo começou.
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