Imagem Ilustrativa Sara Kay |
Ana Lu é uma menina de
quatorze anos, mora na casa de qualquer pessoa que acolha com cuidado e
carinho. A terra nunca foi motivo de não andar ou impedi-la de ver o mais lindo
pôr-do-sol, sempre foi selvagem e tanto para correr e saltitar como um sapo.
Ana Lu gostava de copiar a vida dos animais, quando podia, se agarrava em uma
árvore para imitar um bicho-preguiça. É que ela gostava de fazer rir e deixar
bem a própria alma, sem saber disso.
Mais ela pulava e
saltitava como uma menina de quatorze anos pela trilha que havia entre as
folhas mais verdes e bonitas. Durante todo o caminho, cantarolava músicas que
existiam em sua cabeça, desde que lhe fornecessem inspiração alguma imagem. Era tudo sem
contexto, no contexto dela, a melhor música de todas. Durante o domingo, Ana Lu
não tinha muito o que fazer já que, durante sua linda semaninha, cumpria todas
as regras escolares. O Pai sempre a reclamava para estudar e, depois brincar de
casinha.
- Ana Lu, primeiro estudo, depois brincar.
- Ana Lu, primeiro estudo, depois brincar.
Durante a semaninha,
ela ansiava para brincar com Antônio, seu amigo depois da trilha cantarolada, e
cantava como se os pássaros ouvissem-na e sentissem total inveja.
De longe Antônio viu
sua amiga aos pulos, chegando com um ramo de galho verde, tirando todas as
folhas e cantando alguma coisa que ele não conseguia entender. Pulava que
parecia tocar o céu. A sensação que ele tinha é que iria fazer isso, tocar o
céu a cada pulo. Ele abriu um baita de um sorrisão ao vê-la e saiu correndo
alegremente para abraça-la, soltou o balde de leite que iria tirar, gritando
por seu nome “Ana Lu, você veio”, “Ana Lu"! e voou em seu corpo pequeno como se
não se vissem a séculos.
Entusiasmado, chamara
para divertirem-se juntos:
- Ana Lu, vamos tirar o leite da branquinha,
vamos!
- Antônio, cadê sua
mãe?
- Foi na rua com o meu
pai vender coentro.
- Coentro?
- É.
Imagem Ilustrativa |
Fechou os olhos na mais
ingênua respiração e, sorriu imaginando a cena mais linda que poderia ver em
toda sua pequena vida. Saiu correndo, passando por todas as galinhas e patos
que estavam soltos, alimentando-se de milho e ração. Parou sobre um bloco de
terra meio molhada e, se deparou com o sol batendo na horta mais linda que já
viu. Fechou os olhos e, respirou profundamente sentindo o cheiro da hortelã, camomila
e Endro. Abriu um sorriso gratificante como se tivesse tirado uma foto com os
olhos.
Sentiu uma mão suja e
molhada pegando em seu braço e puxando-a. Era Antônio:
- Vem Ana Lu, vamos!
Saiu sendo guiada por
seu amigo, sorrindo. Havia tirado a melhor e mais linda fotografia em seu
olhar. Antônio viu o rosto de sua amiga julgando engraçado, contudo, já sabia
como ela era, toda sonhadora. Tudo lhe encantava, com um toque de Ana Lu, tudo
virava mágica, poesia, fantasia.
- Ainda bem que você
está aqui... esperei por você toda a semana para brincarmos nas arvores. Você
não sabe o tanto de frutos que nasceram. Podemos sair por todo esse território e
não vai ter nadinha, nada. A gente pode pular e, brincar e se divertir como
nunca. Vamos levar a cereja também. Ana Lu? Ana Lu? Está empolgada? Vamos!
- Estou empolgada
molequinho, só estou pensando na fotografia que tirara.
Rindo, jogara pasto em Antônio.
Rindo, jogara pasto em Antônio.
- Ei, ei, ei. Não! ´
- Deixa de ser chato,
não falta comida para ela.
- Respeita, ela fica
magoada. Não sabe que os animais sentem?
- Sei, eu sei. Eu sou
uma. Imaginou-se na árvore, agarrando-a como se fosse um bicho preguiça e riu
de si mesma.
- Por que está rindo,
borboleta?
- Eu me segurei na
árvore azul, e imitei um bicho preguiça.
Imagem Ilustrativa Sara Kay |
Os dois riram e
brincaram dentro do estábulo, sem parar, dando voltas e brincando de pique-pega
até os pais de Antônio chegarem.
Não me esqueço dela nunca.
Não consigo encarar a trilha ou brincar no estábulo. As lembranças que tenho da
Ana Lu, são essas e muitas outras.
- Vem Antônio, vamos. Quem
chegar mais rápido, é a mulher do padre.
Antônio sentiu algo
diferente nela, seu olhar estava diferente. Seu coração deu uma pontada. Não
sabendo reconhecer aquela sensação, correu com sua amiga, mas algo forte lhe parou.
Gritando entre as
árvores, Ana Lu se encontrava distante a ponto de o eco da voz de Antônio, não chegar até
ela:
- Pare, por ai não! É a
estrada...
Ana Lu continuou
correndo e, o vento que batia em seus ouvidos, cobria barulhos externos, corria
com os olhos fechados, sorrindo de felicidade.
- Ana Lu, pare! É a
estrada!
Continuei gritando o
seu nome, mas ela não parou... eu senti que estava diferente, as coisas estavam
diferentes. Estava tudo mais cinza, o meu coração estava batendo, bombeando
sangue cinza.
Imagem Ilustrativa Sara Kay |
De repente ouvi um
barulho estranho de um carro da cidade. Senti um cheiro de borracha queimada
quando meu coração acelerou e vi o dedo de Ana Lu com o anel que havia dado, no
chão. Na hora parei por instantes e queria vomitar. Gritara o seu nome sem
parar e chorava continuamente.
Hoje, como se ainda estivesse aqui, deixo sobre ela
as melhores flores e, junto guardo o anel de acrílico em forma de diamante que
encontrei como brinde, no salgadinho da tenda.
Nunca esquecerei de seu
sorriso.
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