Sou só mais uma que acredita e, tem como exemplo, este cantor que deixou sua história.
Gonzaguinha e Luiz Gonzaga |
Luiz Gonzaga foi um cantor popular da música nordestina, e o primeiro a mostrar o
ritmo da sanfona, para outros estados do Brasil, se tornando conhecido e
chamado de o rei do baião. Quando jovem, tinha planos de se casar com uma moça
bonita pelo interior de Recife, em sua terra natal, chamada Exu. Seus planos
poderiam se concretizar, se o pai de sua namorada, não fosse tão ditado pelas
regras nordestinas da época. Filho de um trabalhador que consertava
instrumentos musicais, e uma mãe dona de casa, Luiz não aceitou o desprezo por
parte da família de sua namorada, que o considerava m “pobre coitado”, com essa
situação, enfrentou “o ex-sogro”, que apesar de não mata-lo, ameaçou sua família
e pediu que ficasse longe de Nazinha. O complexo de inferioridade existe na
cultura nordestina, e para Luiz, esse sentimento cresceu quando decidiu sair de
Exu, e enfrentou as dificuldades de morar em outro estado, com outro tipo de cultura.
No nordeste as mulheres eram donas de casa, submissas ao homem, e chegando ao
Rio de Janeiro, se envolveu com uma dançarina, com costumes cariocas que diferente
das mulheres que conhecia no interior, trabalhava e se sustentava sozinha,
havendo um choque cultural. Desde que decidiu sair de Exu, nunca teve como
objetivo se tornar músico, mas por sobrevivência, conseguiu popularizar a
música nordestina depois de ter sido um militar. Seu grande objetivo era voltar
para Exu formado, e se casar com Nazinha, para mostrar ao seu Pai, o homem que
havia se tornado. O tempo passou e Gonzaga teve relacionamentos, voltou a se
encontrar com sua família, e teve um filho, Gonzaguinha a qual teve mais
dificuldades de se relacionar. Sem saber sua raiz, Gonzaguinha quando mais
velho, foi atrás de seu pai para saber quem era, de onde tinha vindo, qual a sua
origem como pessoa, sua identidade. A infância e adolescência, de Gonzaguinha foi de muita ausência
por parte de Luiz e essa ausência o tornou - por trás de toda rebeldia - um
homem triste e carente do amor de pai. Apesar de ser estéreo, para mostrar e se
honrar como homem, tendo seu filho, nunca deixou faltar nada para Gonzaguinha. Em
termos antropológicos, Luiz depois de ter perdido Nazinha, ter apanhado de sua
mãe e ter sido desprezado por ser considerado inferior, por classe social e etnia,
enfrentando problemas profissionais e a relação conturbada com seu filho, apresentou
sinais de um homem magoado, e sem expectativas maiores sobre a própria vida, além
de voltar para Exu. Luiz Gonzaga notado pelo homem que foi, nada mais fez, além
do que cumprir com o papel cultural de homem e trabalhador nordestino da época.
Além
do complexo de inferioridade, e o choque de culturas, Antropologicamente mostra
que apesar de todas as dificuldades, Luiz por sobrevivência enfrentou a inferioridade,
apostou na sanfona e se tornou conhecido. O filme também retrata o poder da
mulher no grupo social familiar e como em algumas questões, o homem se mostra inferior
às situações que são postas para mulher. Para Gonzaguinha a relação conturbada
com seu pai, era uma forma de mostrar que a relação de Pai e Filho não envolve
apenas, a disponibilidade material para nascer o laço de amor, mas sim a
relação presente onde envolve a troca de sentimentos, tornando possível a
verdadeira relação de pai e filho. Já para Luiz, toda sua postura de homem
sério, era certa, e considerada para ele normal. Por não ter conseguido se
tornar doutor, seu sonho foi transferido para Gonzaguinha, que cumpriu com a
promessa e se formou em economia.
Com
uma história completamente rica sobre a cultura nordestina, contribuiu para
mostrar a força de vontade dos nordestinos, apesar de toda inferioridade.
Mostrou a fragilidade dos nordestinos diante de uma decepção e como a cultura
se torna uma grande influência sobre a vida das pessoas e como em alguns casos
isso pode ser ruim.
A
cultura é uma dimensão que parece afastar as pessoas e transforma-las em
inferiores e superiores, mas não importa quem você é ou de onde você veio, o
que importa é que apesar de todas as diferenças, em alguns aspectos, todos nós
somos um pouco iguais. É como mostrou Gonzaguinha, que foi criado no Rio de
Janeiro, com uma cultura carioca, moderna, conseguiu se formar e não exerceu a
profissão, já que sempre teve como influência superior e referencial de vida,
Luiz, seu verdadeiro Pai e amigo, um nordestino.
GONZAGA. De pai pra filho, 2012.
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