Pode acabar, eu sei. É
o fim do mundo, eu sei também, na verdade tento acreditar que é para suportar,
tudo o que não deveria levar, sem você comigo. Por que é fácil nos livros, é
fácil em qualquer parte do mundo, teorizar um sentimento, é fácil até para mim
aconselhar alguém inseguro com problemas de estima. Quando se trata de nós é
tudo bem, está tudo bem, nada pode ser pior de que um estrago, uma bagunça, um
atraso, uma briga qualquer.
Quando se trata de nós
dois, nada e ninguém é superior o suficiente para dizer como deve guiar eu e
você. Você e eu é o que acontece agora, você e eu é o suficiente para deixar de
lado qualquer coisa que nos condene como um casal qualquer, como um casal
inconsequente que não segue as regras. Um casal diferente demais para ser
aceito.
Tinha uma estrela no
dedo, era final de ano. Não estávamos em nossa cidade natal, portanto não sei
descrever em detalhes a rua, o número, o endereço, porém posso garantir que
foi a sensação mais intensa que senti em minha humilde vida. Não tinha ninguém,
nada e nem ninguém nos olhando ou nos considerando importantes para ser a
fofoca da vida. Era como se tudo fosse importante, menos nós dois, e isso era
incrível.
Conhecemos algumas
pessoas no meio da praia, antes mesmo dos fogos ascenderem. E não gostávamos
dessas festividades, nossa rotina era tão exemplar que fugir dela, era um pouco
estranho demais para não ser seguida. Um padrão diferente do que vivíamos não
tinha cogitação ou pensamento de mudança. No meio da festa toda, a bebida foi
aberta, perdemos o que havíamos trago nos pés e ficamos com o nosso amor e
algumas pessoas que nos acharam diferentes demais. Perguntaram se morávamos lá,
se éramos estrangeiros, ou ricos demais, talvez para quem sabe dar uma festa no
apartamento luxuoso. E riamos, simplesmente riamos de tudo aquilo.
A mágica era não ver o
vestido branco sujo, o cabelo fora do lugar ou qualquer coisa que acontece em
festas. Simplesmente riamos e bebíamos. Não conhecíamos ninguém, mas quem se
importava? Todos celebraram o momento e, nós o nosso momento, único e
verdadeiro. Sem fotos, sem fotografias, sem qualquer meio de lembrança concreta.
Ficou combinado de contar a quem quiséssemos e, o desafio era alguém acreditar
sem pensar que estávamos mentindo ou estávamos loucos. No outro dia voltamos e,
desconhecemos o lugar. Nós o tornamos especial demais.
Um contador de histórias
ou um escritor conta a melhor mentira da vida.
O único pensamento era
o de não acabar. Não precisa decorar os quartos como se eles fossem fotografados
por revistas atrás de famílias e casais exemplares, nada de piscina com intuito
de fazer uma festa com corpo esbanjando sensualidade, uma casa sem ser de
revista para mostrar as voltas que o mundo dá. Só queríamos manter tudo em
segredo e, já estava. Não conhecíamos ninguém. Nos abraçávamos como a noite,
sem momento para terminar.
Mas era só você chegar
para tirar nossas mãos, nos afastar, pedir alguma comida, ligar a televisão e
falar sobre política. E nos sustentávamos com aquele momento, olhávamos como se
tudo tivesse válido a pena, a partir daquele momento. Aquele momento que nós
nos mostramos seres humanos felizes e sem preocupação alguma com a língua alheia.
E riamos. Socialmente, aparecia a vergonha, a respiração contada de um até dez,
um cortar de legumes e um abraço por trás... desfeito depois de uma aparição constrangedora
na cozinha.
É assim que somos, um
casal que não pode fazer nada sem que não sintamos o medo de um dia acabar e escutar
um “eu avisei”.
Não queria a solidão e
o frio da sua alma longe de mim, por que não importa o que digam, tudo passa,
até você encontrar alguém que não tampe a sua panela, não seja a laranja,
metade do coração ou uma parte do seu corpo. Você percebe que se importa quando
esse alguém não te tirou um segundo da realidade, simplesmente tirou os teus
sonhos da cabeça e trouxe-os para a vida.
E o pé na areia, os
fogos e a felicidade, foi a realidade.
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